quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

‘O progresso pode matar’: epidemia de HIV massacra indígenas na Venezuela


Paulo Emanuel Lopes
Fonte: Adital
Especialistas revelam que uma "epidemia” do vírus HIV está dizimando o povo indígena Warao, na Venezuela. A informação pode ser um impactante reflexo das devastadoras consequências que a perda de território e de autonomia têm sobre os povos indígenas e tribais, tal como detalha um novo informe de Survival Internacional "El progreso puede matar”: http://www.survival.es/el-progreso-puede-matar .
Há relativamente pouco tempo, os Waraos desconheciam o vírus. Apenas em 2007, foram registrados os primeiros casos. Uma variação particularmente agressiva do HIV afeta agora dezenas de comunidades waraos e se propaga com rapidez.
Um outro estudo, levado a cabo em oito comunidades indígenas da Venezuela, revela que cerca de 10% da população Warao já contraíram o vírus. Estes níveis são 20 vezes superiores à média da sociedade venezuelana em geral, e o dobro dos da África Subsaariana, onde há maior número de casos de HIV/Aids em todo o mundo.
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Uma outra consequência da epidemia é que os níveis de contágio entre bebês waraos também alcançam também níveis alarmantes. "Estão nos matando, um por um”, manifestou um homem warao à Survival.
Segundo os especialistas, foram mineiros ilegais que propagaram o vírus entre o povo indígena warao. A isto se soma o fato de que muitos waraos emigraram para povoados próximos, em busca de trabalho, por conta da contaminação dos seus rios por companhias petroleiras, e acabaram contraindo o vírus dos não indígenas.
Segundo a Survival, a mineração e a exploração petrolífera são onipresentes na Venezuela e ameaçam a sobrevivência de vários povos indígenas, que vêm protagonizando protestos nos últimos anos.
Os waraos também sofrem elevadas taxas de hepatite, tuberculose e outros problemas de saúde. Têm acesso limitado à atenção sanitária apesar de reiterados pedidos ao governo.
Os waraos vivem no delta do rio Orinoco, região situada a leste da Venezuela. Muitos habitam em palafitas, casas com tetos de palha, edificadas sobre os rios, com suportes e estacas de madeira, mantendo uma estreita conexão com seus entornos fluviais, dos quais dependem para obter água potável, alimento e para deslocarem-se.
A Survival está pedindo à ONU [Organização das Nações Unidas] que reforce, com mais efetividade, a proteção dos direitos territoriais dos povos indígenas, e exorte as autoridades venezuelanas e os governos de todo o mundo a que cumpram com suas obrigações para com seus povos indígenas.
Uma versão atualizada do informe "O progresso pode matar”, produzido pela Survival, estádisponível em inglês.
Para a Survival, impor o ‘desenvolvimento’ ou ‘progresso’ aos povos indígenas e tribais não os faz mais felizes ou saudáveis. De fato, as consequências são devastadoras, como o que está acontecendo na Venezuela. Na verdade, o fator mais importante para seu bem estar é que seus direitos territoriais sejam respeitados, defende a organização.
"Mas isso não tem porque ser assim. Quando os povos indígenas e tribais têm terra, gozam então de liberdade para tomar suas próprias decisões acerca de como viver. Os povos indígenas que vivem em suas próprias terras estão sempre mais saudáveis e, ao contrário, gozam de uma maior qualidade de vida que os milhões de cidadãos empobrecidos marginalizados pela crescente desigualdade”.
Assista a um vídeo realizado pela Survival sobre a epidemia de HIV entre os waraos venezuelanos:

Paulo Emanuel Lopes

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